A vida é feita de lembranças, e algumas das boas lembranças que tenho na minha são as olfativas.
Assim como aquela música que faz suspirar, aquele cheiro que a gente sente de vez enquando, trazido pelo vento...
Chega a dar arrepios.
Situações, lugares, pessoas...
Cheiro do bolo de cenoura e do brigadeiro na panela, cheiro de terra molhada, inconfundível!
Cheiro de massa corrida quando a casa estava sendo reformada.
Depois, na escola, o cheiro da caixa de lápis de cor.
Cheiro do perfume que usava na adolescência... saudade gostosa.
Cheiro de roupa limpa, cheiro de mala e cheiro de ônibus de viagem, rs
Cheiro de papel de presente, cheiro de pipoca, de fruta e de protetor solar.
Cheiro de quarto quando a gente acaba de acordar, cheiro do shampoo que ele usa, cheiro da casa dele quando nos
conhecemos...
A saudade me faz ficar aqui pensando no cheiro que ele tem.
Não cheiro de perfume, mas aquele cheiro que sinto quando me pego pensando...
Cheiro da boca, do abraço, cheiro da gente junto.
Que cheiro tem?
Cheiro de noite estrelada, cheiro de vento no rosto, de praia no final da tarde, cheiro de risada sem motivo...
Cheiro de passarinho cantando!
Cheiro que sinto quando fecho os olhos...
Cheiro que só quem sente sabe como é!
Eu vou mas eu volto.
Da série, quando a vida muda eu escrevo. Escrevendo pra quem não lê, desde 2006. Cheguei aos quarenta e cinco, dos trinta onde comecei. Mudando o enredo, pra não seguir a rima Um copo de vinho e uma rufles meio murcha, cachorro deitado no meu pé, gata querendo dividir comigo o teclado e filha deitada no quarto . Assim é estruturada minha nova rotina familiar. Olho acima da tela, vejo flores no aparador. As comprei hoje a tarde. Olho os livros na estante, os mesmos, do decorrer da vida. Olho as plantas em cima do armário. Verdes, mas tão verdes, que me orgulho do meu trabalho. Me tornei uma exímia cuidadora de plantas. Correndo os olhos pela sala, vejo um quadro do Neruda, tão sonhado, exatamente onde imaginei E ao seu lado, Sidharta, o Buda, exatamente onde o deixei. Os ouvidos, ouvem a tv, num jornal, bem baixinho E se fizer força, lá fora, o barulho do mar. Alguns barulhos, na casa do vizinho Quase a silenciar. Em pouco tempo, troco todos os sons, pelos do teclado Em uma noite comemo
Comentários