A vida é feita de lembranças, e algumas das boas lembranças que tenho na minha são as olfativas.
Assim como aquela música que faz suspirar, aquele cheiro que a gente sente de vez enquando, trazido pelo vento...
Chega a dar arrepios.
Situações, lugares, pessoas...
Cheiro do bolo de cenoura e do brigadeiro na panela, cheiro de terra molhada, inconfundível!
Cheiro de massa corrida quando a casa estava sendo reformada.
Depois, na escola, o cheiro da caixa de lápis de cor.
Cheiro do perfume que usava na adolescência... saudade gostosa.
Cheiro de roupa limpa, cheiro de mala e cheiro de ônibus de viagem, rs
Cheiro de papel de presente, cheiro de pipoca, de fruta e de protetor solar.
Cheiro de quarto quando a gente acaba de acordar, cheiro do shampoo que ele usa, cheiro da casa dele quando nos
conhecemos...
A saudade me faz ficar aqui pensando no cheiro que ele tem.
Não cheiro de perfume, mas aquele cheiro que sinto quando me pego pensando...
Cheiro da boca, do abraço, cheiro da gente junto.
Que cheiro tem?
Cheiro de noite estrelada, cheiro de vento no rosto, de praia no final da tarde, cheiro de risada sem motivo...
Cheiro de passarinho cantando!
Cheiro que sinto quando fecho os olhos...
Cheiro que só quem sente sabe como é!
Eu vou mas eu volto.
E então, o que eu mais temia aconteceu. Não foi o primeiro tombo de bicicleta ou a primeira briga com a melhor amiga. Não foi a pior nota na escola ou a primeira mentira deslavada. Também não foi o primeiro amor não correspondido, foi o contrário disso... O amor que virou desamor, em tão pouco tempo, em tão longo tempo, nas horas incontáveis de sua adolescência. A dor de um dia que parece não passar, o frio na barriga, suor na mão, disparo no coração. As borboletas deixam a harmonia de lado e passam a bater suas asas descompassadamento no estômago. As lágrimas teimosas, a cada música romântica tocada no rádio, a cada cena na televisão, ou até mesmo no livro da prova de português, consegue ser romântico a ponto de ser detestável. Maldito telefone que toca. Maldito telefone que não toca. Malditas benditas pessoas que amam e querem confortar o que não tem conforto. Acaba o chão, acaba a reação, acaba com o coração. E o que eu mais temia, agora me consome como há anos atr...
Comentários